Pode ser bastante difícil receber o diagnóstico de uma doença que você nunca ouviu falar, não é mesmo? Muitas vezes, é isso que ocorre com quem descobre que tem Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM).
E por ser uma patologia classificada como rara, encontrar informações confiáveis e tratamentos para ela pode ser ainda mais desafiador.
A Febre Familiar do Mediterrâneo faz parte de um grupo de patologias denominadas febres inflamatórias recorrentes hereditárias, sendo a mais comum desse rol. Tais doenças são caracterizadas por febre e inflamação sistêmica, podendo ser recorrentes ou contínuas, apresentando intervalos assintomáticos que podem variar quanto à sua duração.
Em linhas gerais, a FMF é um distúrbio hereditário manifestado por febres episódicas, geralmente acompanhadas por dor no abdômen, nas articulações ou no tórax, que pode prejudicar a rotina e o bem-estar dos pacientes se não for adequadamente tratada.
Neste artigo, descubra mais sobre essa doença, seus sintomas típicos, diagnóstico, tratamento tradicional e a opção inovadora de tratamento trazida pelas infusões de medicamentos. Acompanhe a seguir:
Febre Familiar do Mediterrâneo: o que é essa doença rara?
Essa condição foi descrita pela primeira vez em 1945 sob o nome “peritonite paroxística benigna”. Trata-se de uma patologia rara de origem genética de herança autossômica recessiva caracterizada por mutações no cromossomo 16 – gene denominado MEFV (mediterranean fever). Isso quer dizer que para o paciente ter a doença ele necessariamente herdou a mutação genética tanto de seu pai quanto de sua mãe.
Cabe fazer uma observação: comumente, os pais de um paciente com Febre Familiar do Mediterrâneo carregam o gene mutado, porém não manifestam os sintomas da doença, sendo, por esse motivo, chamados de portadores.
Outro ponto importante para ser esclarecido é que essa é uma condição autoinflamatória e não autoimune como algumas pessoas imaginam.
Ela costuma atingir especialmente indivíduos com origem no Mediterrâneo ou Oriente Médio, embora haja casos de incidência também em pessoas de outras localidades. Pacientes de ambos os sexos podem ter FFM, entretanto, há estudos que apontam uma ligeira predominância de casos nos homens. Essa condição afeta principalmente turcos, armênios, judeus e árabes.
Como vimos, essa é classificada como uma doença rara, visto que sua prevalência é de 1 a 5 a cada 10.000 pessoas. No Brasil, ainda não há dados mais precisos sobre a real incidência desta patologia. No entanto, há lugares nos quais essa é uma doença bastante comum. Em alguns países árabes, por exemplo, dada a alta prevalência, a FMF é considerada uma preocupação de saúde pública.
Como a FFM afeta a vida do paciente?
Com o diagnóstico precoce e o tratamento correto, boa parte dos pacientes afetados pela condição conseguem manter sua produtividade.
No entanto, nos episódios de crise não tratados, os pacientes dificilmente conseguem realizar suas atividades rotineiras, deixando de comparecer a seus compromissos. A dor abdominal intensa, presente em alguns episódios, pode parecer apendicite e alguns pacientes podem ser submetidos desnecessariamente à cirurgia para remover o apêndice. A dor no peito também pode ser intensa nas crises, tornando a tarefa de respirar profundamente bastante difícil e desconfortável.
Há também casos que simples ações, como caminhar ou correr, podem se mostrar bastante complicadas, em razão das dores e do inchaço nas articulações, principalmente nos joelhos. Esses inchaços tendem a desaparecer entre 5 a 14 dias, mas, às vezes, podem se tornar crônicos (no longo prazo).
Os indivíduos afetados e não tratados também podem apresentar maior risco de desenvolver vasculites, colite ulcerosa, doença de Crohn e artrite reumatóide.
Algumas crianças e jovens com FMF inicialmente precisam de apoio psicológico para lidar com essa doença que exige a administração de remédios por toda a vida. Os episódios frequentes de febre e demais sintomas podem afetar a vida da criança e da família, incluindo a frequência escolar, portanto, o envolvimento de professores, assistentes sociais, tutores e outros membros da comunidade pode ser útil. A maioria das crianças, no entanto, se adapta ao tratamento e, quando bem controlada, a doença não deve interferir na educação normal e na vida adulta produtiva.
Entretanto, se houver complicação dos rins – uma complicação que pode resultar da falta de tratamento correto da Febre Familiar do Mediterrâneo –, essas pessoas podem reter líquidos, sentir-se fracas e perder seu apetite.
Ainda, em torno de um terço das mulheres com essa condição são inférteis ou sofrem abortos – cerca de 20% a 30% das gestações acabam em perda do feto.
Quando essa condição não é tratada ou recebe um tratamento inadequado, a cada novo surto inflamatório se dá a formação e o depósito de uma proteína de alto peso molecular – a amiloide, que se acumula em diversos tecidos, levando ao quadro de amiloidose (problema no qual proteínas são acumuladas sobretudo nos rins, levando a danos renais). Em determinados casos, esse problema leva à necessidade de fazer diálise ou transplante de rim. Infelizmente, essa grave complicação trazida pela amiloidose, sem tratamento, pode levar o paciente a óbito.
Quais são os sintomas característicos?
Os sintomas e a gravidade da FMF podem variar muito de uma pessoa para outra – mesmo entre membros da mesma família. As manifestações da Febre Familiar do Mediterrâneo surgem comumente na juventude, sendo que, em 90% dos casos, manifestam-se antes dos 18 anos de idade do paciente.
A ocorrência dos ataques tende a ser esporádica, sendo que atividades físicas intensas, dieta rica em gorduras, frio, infecções e estresse são tidos muitas vezes como gatilhos para esses episódios.
Entre as manifestações características, estão:
- Febre súbita, variando de 37,8°C a 40°C;
- Surtos recorrentes de febre, que duram entre um e três dias;
- Febre acompanhada de dores abdominais no lado direito e/ou torácicas e/ou dores e edemaciação das articulações (entre leves a intensas);
- Inchaço e inflamação nas articulações (como joelho, tornozelo, pulso);
- Mialgia;
- Dor de cabeça;
- Vermelhidão e manchas na pele, sobretudo na área do tornozelo;
- Hábito intestinal alterado;
- Pericardite (mais raramente).
Como é feito o diagnóstico da Febre Familiar do Mediterrâneo?
A Febre Familiar do Mediterrâneo pode apresentar manifestações inespecíficas que se assemelham a outros distúrbios mais comuns, como infecções, apendicite aguda, colecistite e artrite. Isso pode acabar atrasando o diagnóstico – até mesmo por anos – e sujeitar os pacientes a extensas avaliações e, inclusive, a cirurgias desnecessárias.
Entretanto, como a Febre Familiar do Mediterrâneo geralmente requer tratamento ao longo de toda a vida do paciente, é crucial estabelecer um diagnóstico correto e não-tardio.
Porém, como ocorre com outras doenças raras, esse diagnóstico ainda é desafiador, uma vez que não há um teste específico para diagnosticar de modo definitivo a Febre Familiar do Mediterrâneo. Desse modo, o diagnóstico leva em consideração o histórico de ataques característicos, sobretudo em pessoas descendentes ou provenientes do Mediterrâneo e do Oriente Médio.
Exames de sangue feitos durante os episódios podem ajudar a detectar um aumento de determinados marcadores que indicam uma condição inflamatória no organismo. Também há a alternativa do teste genético, porém, esses não avaliam todas as mutações genéticas relacionadas à patologia.
Em alguns casos, um medicamento chamado colchicina – que apresentaremos a seguir – será administrado por três a seis meses como teste, a fim de verificar se episódios de dor e febre se tornam menos frequentes ou graves, o que pode auxiliar no diagnóstico de FMF.
Todavia, de modo geral, a detecção da FFM pode ser feita associando-se:
- Manifestações clínicas do paciente: é feita uma caracterização clínica da patologia, excluindo-se outras causas prováveis dos sintomas apresentados. Então, deve-se preencher determinados critérios mínimos já estabelecidos e bastante característicos da Febre Familiar do Mediterrâneo.
- Comprovação laboratorial: uma comprovação da inflamação sistêmica em uma crise, com aumento de marcadores agudos de inflamação ajuda nesse diagnóstico. Por isso, geralmente o especialista solicita exames de PCR e VHS (testes para identificar e avaliar inflamações) em período de crise e fora de crise. Ainda, o exame urinário pode revelar perda excessiva de uma proteína chamada albumina, que pode ser indicativa de doença renal.
- Achados genéticos: a análise e interpretação genética são cruciais para esse diagnóstico. Há diversos métodos que podem ser utilizados a fim de buscar mutações do gene em questão.
Como é o tratamento convencional para a Febre Familiar do Mediterrâneo?
Infelizmente, ainda não há cura para a Febre Familiar do Mediterrâneo. Portanto, o tratamento de longo prazo é realizado para amenizar os sintomas e outros problemas relacionados à condição, visando evitar episódios de febre e lesões em órgãos internos.
O tratamento tradicionalmente prescrito para essa condição envolve o uso de colchicina, remédio administrado via oral. Usado desde os anos 1970 para evitar a recorrência dos ataques e para prevenir a amiloidose, esse medicamento atua também para reduzir a inflamação característica da condição.
Cabe ressaltar que a falta de uma dose única desse medicamento geralmente resulta em um ataque agudo dentro de 24 a 72 horas, mesmo em pacientes que estão sob controle perfeito há anos. Além disso, tomar colchicina no início de um ataque não fará efeito – o medicamento evitará ataques se tomado continuamente, mas não bloqueará um ataque agudo em andamento.
Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e analgésicos podem também ser indicados pelo médico para tratar pacientes durante um episódio febril ou inflamatório. Os AINEs também podem ser recomendados para tratar dores nas articulações e nos músculos, que não respondem adequadamente à colchicina.
Como se dá o tratamento da Febre Familiar do Mediterrâneo por meio de infusões?
A infusão de medicamentos, também chamada de TRE – terapia de reposição enzimática – é a aplicação de um infuso ou de uma injeção diretamente na veia do paciente, inserindo nele uma enzima parecida com a que lhe falta completa ou parcialmente. Tal enzima é desenvolvida por meio de engenharia genética e tecnologia de DNA recombinante, sendo derivada de anticorpos humanos ou de origem animal, alterados em laboratório.
Para o tratamento de doenças como a FFM, a infusão de medicamentos se mostrou uma revolução mais do que pertinente. Isso porque há casos nos quais o tratamento convencional não pode ser administrado, gera efeitos adversos muito severos ou não surte o resultado esperado. Naqueles moderados a graves, a infusão medicamentosa também tem sido a solução para se lidar com o problema de modo mais humanizado e para manter a qualidade de vida do paciente.
Por questões como essa, a aplicação enzimática intravenosa já é vista como uma maneira mais eficiente de administração de medicamentos no paciente. Esse recurso permite que a medicação seja fornecida em taxas, volumes e intervalos precisamente programados, de acordo com a necessidade do paciente.
Portanto, esse tratamento por meio de medicamentos biológicos é seguro, reconhecido e pode ajudar o paciente a apresentar menos reações adversas e ter mais qualidade de vida, sendo visto como revolucionário e uma das grandes tendências da medicina.
No caso da Febre Familiar do Mediterrâneo, há também o caso de pacientes que são intolerantes à terapia com colchicina. Nesse contexto, a infusão mostra-se como uma importante alternativa para garantir o tratamento a essas pessoas e o alívio rápido e sustentável de seus sintomas que podem ser bastante incômodos.
De fato, recentemente, um grupo internacional de especialistas publicou as suas recomendações baseadas em evidências para o gerenciamento da FMF. Entre essas recomendações, está o uso de infusões para pacientes que sofrem de mais de seis ataques típicos de FMF por ano – nesse caso, os especialistas os classificam como resistentes ou refratários à colchicina.
A Canaquinumabe (Ilaris®) é a infusão medicamentosa aplicada na Clínica Croce para essa condição e para síndromes febris periódicas associadas à criopirina (chamadas criopirinopatias CAPS), síndrome periódica associada ao receptor do fator de necrose tumoral (TRAPS), síndrome de hiperimunoglobulina D (HIDS)/deficiência de mevalonato quinase (MKD), Doença de Still e Artrite gotosa. Ressaltamos que essa infusão é autorizada pela FDA (Food and Drug Administration) e possui registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Trata-se de um bloqueador de interleucina-1 beta que pode ser administrado em adultos e crianças com 2 anos ou mais. Sua substância ativa eficaz e segura é o canaquinumabe, anticorpo monoclonal, uma espécie de proteína que foi desenvolvida para reconhecer e se ligar a uma molécula mensageira ou “citocina” no corpo, chamada de interleucina-1 beta.
Tal molécula está relacionada a inflamações, estando presente em altos níveis no sistema do paciente com FFM. Por meio da ligação estabelecida pela substância ativa, essa realiza o bloqueio da atividade da molécula, atuando na redução da inflamação e gerando alívio dos sintomas da doença e recidivas no paciente. Há, até mesmo, casos de remissão completa da condição após o tratamento com canacinumabe em pacientes com FMF resistente à colchicina.
Tratamento de Febre Familiar do Mediterrâneo com infusão na Clínica Croce
A Clínica Croce, fundada em 1973, conta com um corpo médico formado por especialistas da USP e UNIFESP. Nossa equipe está preparada para prover o tratamento da Febre Familiar do Mediterrâneo via infusão de medicamentos, tendo ainda o diferencial do atendimento com uma abordagem multidisciplinar, visto que o paciente com esse tipo de patologia costumeiramente enfrenta problemas associados a outras especialidades, tais como a reumatologia.
Na clínica, contamos com a expertise do Dr. Leonardo Oliveira Mendonça, alergista e imunologista especialista em doenças raras, como a FMF, o que torna todo o processo de diagnóstico e tratamento mais ágil e preciso para esses casos.
Localizado na zona oeste de São Paulo, o ambiente da clínica é especialmente desenvolvido para prover um atendimento confortável, qualificado, seguro e acolhedor ao paciente. O tratamento via infusão medicamentosa é feito com o acompanhamento de nossos especialistas, seguindo todos os protocolos demandados para esse tipo de atendimento.
Desse modo, se você ou algum familiar tem ou suspeita ter Febre Familiar do Mediterrâneo, não perca tempo e conte com especialistas no assunto para dirimir suas dúvidas e iniciar o tratamento mais adequado para o seu caso em específico.
Agora que você já conhece um pouco mais sobre a Febre Familiar do Mediterrâneo, o tratamento com infusões e sobre a Clínica Croce, que tal agendar uma consulta com nossos especialistas? Clique na imagem abaixo e inicie agora mesmo uma conversa por whatsapp com nosso atendimento.