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Canaquinumabe: para que serve e como usar a medicação?

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O Canaquinumabe (Ilaris®) é um medicamento com registro junto à Anvisa, indicado para o tratamento de doenças autoinflamatórias, como Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM), Artrite Idiopática Juvenil Sistêmica, Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina; Síndrome Periódica Associada ao Receptor do Fator de Necrose Tumoral (TRAPS) entre outras.

Por ser destinada a doenças não tão comuns, o canaquinumabe é um medicamento pouco conhecido. Como forma de mostrar um pouco mais para que serve e como deve ser usado, desenvolvemos este artigo. Acompanhe!

Para o que o canaquinumabe é indicado?

O canaquinumabe é um bloqueador de interleucina-1 beta, utilizado para o tratamento de doenças caracterizadas pela produção excessiva, local ou sistêmica de IL-1 beta. Assim, o medicamento é recomendado para o tratamento de diversos tipos de síndromes febris periódicas autoinflamatórias. 

Entre elas, está a Febre Familiar do Mediterrâneo, as Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina (CAPS), a Síndrome Periódica Associada ao Receptor do Fator de Necrose Tumoral (TRAPS), a Síndrome da Hiperimunoglobulinemia D (HIDS) e a Deficiência de Mevalonato Quinase (MKD).

Como funciona esta medicação?

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Em pacientes com Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina, o corpo produz um mediador químico, conhecido como interleucina-1 beta (IL-1 beta), em quantidade excessiva. 

Essa produção aumentada pode causar sintomas como febre, dores de cabeça, dores nas articulações, dores musculares, erupção cutânea e fadiga. Efeitos mais graves podem ser observados em alguns pacientes, como a diminuição da capacidade auditiva. 

O canaquinumabe pertence ao grupo de medicamentos chamados de inibidores de interleucina-1. O medicamento é um anticorpo monoclonal totalmente humano, capaz de ligar-se seletivamente à IL-1 beta para bloquear sua atividade e conduzir a uma melhora dos sintomas. 

O canaquinumabe deve ser aplicado a cada 8 semanas, em dose única sob a pele, por meio de injeção subcutânea. O pico de concentração plasmática do canaquinumabe ocorre em aproximadamente 7 dias após a administração da dose única subcutânea de 150 mg em pacientes adultos com Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina, por exemplo.

Quais doenças o canaquinumabe pode tratar?

O canaquinumabe é utilizado para tratar doenças autoinflamatórias. Tais enfermidades eram classificadas inicialmente como doenças autoimunes. Contudo, as doenças inflamatórias sistêmicas foram redefinidas na última década com o avanço no conhecimento relacionado ao sistema imunológico.

Atualmente, essas doenças são classificadas pelo compartimento imunológico envolvido, e divididas em dois grandes grupos: doenças autoinflamatórias e autoimunes. A diferenciação desses grupos é fundamental para o diagnóstico, tratamento e prognóstico clínico correto. 

As doenças autoinflamatórias ocorrem quando os glóbulos brancos (células de defesa) atacam tecidos saudáveis do corpo, sinalizando para que o organismo elimine esses tecidos. 

Essa falha no sistema imunológico pode causar processos inflamatórios intensos, levando a sintomas como febre, inchaço, dor em articulações e erupção cutânea. Em casos mais graves, podem causar o acúmulo de uma proteína do sangue e órgãos vitais, se tornando fatal, episódio chamado de amiloidose. A seguir, conheça as doenças que podem ser tratadas pelo canaquinumabe.

Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina 

As síndromes periódicas associadas à criopirina são doenças autoinflamatórias que estão associadas a mutações no gene NLRP3. No Brasil, a prevalência estimada desta doença é desconhecida, mas estima-se que na França seja de 1/360.000 mil indivíduos. 

Essas síndromes são doenças espectrais por gravidade inflamatória. Assim, podem ser classificadas em diferentes subgrupos: FCAS (em português, síndrome autoinflamatória do frio familiar); Muckle-Wells e NOMID/CINCA (em português, doença inflamatória multissistêmica de início neonatal).

As manifestações mais comuns nessas doenças autoinflamatórias são: febre recorrente, manifestações articulares (desde artralgia a artrite deformante) e rash cutâneo, parecido com a urticária.

Na síndrome autoinflamatória do frio familiar, as reações são causadas pela exposição ao frio, com menor dimensão sistêmica. Já a Muckle-Wells, diferente da anterior, não é precipitada pelo frio. Seu quadro apresenta gravidade visto que pode causar surdez neurosensorial em até 20% dos pacientes, assim como a artrite.

Já a doença inflamatória multissistêmica de início neonatal é uma condição grave, de início precoce na infância. Além dos sintomas acima, também pode provocar atraso no crescimento, papiledema (aumento da pressão no cérebro), hidrocefalia e artrite importante e deformante. 

Em qualquer um dos três subgrupos também pode ser observado o acometimento ocular, manifestando-se por meio de conjuntivite não-infecciosa, uveíte (inflamação que pode atingir o nervo óptico) e iridociclite (inflamação da íris e corpo ciliar).

Além disso, podem estar presentes as vasculites, osteopenia, hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia. A amiloidose secundária é outra complicação grave das Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina, e seu risco aumenta com a gravidade das doenças.

Febre Familiar do Mediterrâneo

Essa doença autoinflamatória foi descrita pela primeira vez em 1945 sob o nome “peritonite paroxística benigna”. A febre familiar do Mediterrâneo de uma patologia rara de origem genética de herança autossômica recessiva caracterizada por mutações no cromossomo 16 – gene denominado MEFV (mediterranean fever). Isso quer dizer que para o paciente ter a doença ele necessariamente herdou a mutação genética tanto de seu pai quanto de sua mãe.

Comumente, os pais de uma pessoa com Febre Familiar do Mediterrâneo carregam o gene mutado, porém, não manifestam os sintomas da doença, sendo, por esse motivo, chamados de portadores.

Outro ponto importante para ser esclarecido é que essa é uma condição autoinflamatória e não autoimune como algumas pessoas imaginam.

Ela costuma atingir especialmente indivíduos com origem no Mediterrâneo e Oriente Médio, embora haja casos de incidência também em pessoas de outras localidades. Pacientes de ambos os sexos podem ter FFM, entretanto, há estudos que apontam uma ligeira predominância de casos nos homens. Essa condição afeta principalmente turcos, armênios, judeus e árabes.

Como vimos, essa é classificada como uma doença rara, visto que sua prevalência é de 1 a 5 a cada 10.000 pessoas. No Brasil, ainda não há dados mais precisos sobre a real incidência desta patologia. 

No entanto, há lugares nos quais essa é uma doença bastante comum. Em alguns países árabes, por exemplo, dada a alta prevalência, a FFM é considerada uma preocupação de saúde pública.

Os sintomas e a gravidade dessa doença autoinflamatória podem variar muito de uma pessoa para outra – mesmo entre membros da mesma família. As manifestações da febre familiar do Mediterrâneo surgem comumente na juventude, sendo que, em 90% dos casos, manifestam-se antes dos 18 anos do paciente.

A ocorrência dos ataques tende a ser esporádica, sendo que atividades físicas intensas, dieta rica em gorduras, frio, infecções e estresse são tidos muitas vezes como gatilhos para esses episódios.

Entre as manifestações características, estão:

  • Febre súbita, variando de 37,8 °C a 40 °C;
  • Surtos recorrentes de febre, que duram entre um e três dias;
  • Febre acompanhada de dores abdominais no lado direito e/ou torácicas e/ou dores e edemaciação das articulações (entre leves a intensas);
  • Inchaço e inflamação nas articulações (como joelho, tornozelo, pulso);
  • Mialgia;
  • Dor de cabeça;
  • Vermelhidão e manchas na pele, sobretudo na área do tornozelo;
  • Hábito intestinal alterado;
  • Pericardite (raramente).

Artrite idiopática juvenil

Relativamente rara, a artrite idiopática juvenil é apenas uma das centenas de tipos de artrites que podem afetar crianças e adolescentes. A doença acomete mais meninas que meninos, de qualquer raça até 16 anos. 

No entanto, os picos de maior incidência estão entre 1 a 5 e 10 a 14 anos. Sua causa ainda não é conhecida. Entretanto, fatores imunológicos, infecciosos e genéticos estão envolvidos. Alguns estudos recentes mostram que existe certa tendência familiar, assim como fatores externos, como bactérias, vírus, estresse emocional, que podem desencadeá-la. 

Por não ser uma patologia infecto-contagiosa, seus pacientes podem continuar a frequentar lugares públicos normalmente. Além das articulações, a artrite idiopática juvenil afeta outras partes do corpo da criança. Podendo durar anos, com períodos de remissão e atividade, o paciente tem dores e febre. 

Mesmo não sendo fatal, sem tratamento adequado pode levar complicações para o desenvolvimento e vida da criança. Em alguns casos, o efeito inclui deixar de usar normalmente um membro do corpo como braço ou perna. 

Ainda pode ocorrer a interrupção da locomoção, tornando-o totalmente dependente da família. Contudo, quando tratada de forma adequada, a maior parte das crianças afetadas pode ter uma vida normal, com boa qualidade.

Seu diagnóstico, assim como na maior parte das doenças reumáticas em crianças, é clínico, e se baseia na presença de artrite em articulações, com duração igual ou superior a 6 semanas. Ainda não existem exames laboratoriais específicos para a doença. Os tipos mais comuns de artrite idiopática juvenil, são oligoarticular, poliarticular e sistêmico. As oligoarticulares acometem 4 articulações, sendo tornozelos e joelhos as mais frequentes. 

Crianças diagnosticadas com este tipo da doença devem realizar avaliações oftalmológicas com frequência, de preferência a cada 3 ou 4 meses. O motivo é a possível inflamação da úvea, parte colorida dos olhos. 

No tipo poliarticular, as articulações acometidas envolvem 5 ou mais, com destaque para punhos, joelhos, tornozelos, e pequenas articulações de mãos e pés. É possível que nesse tipo, ocorra febre recorrente, e o fator reumatoide, responsável por identificar a patologia, pode estar presente em 10% dos pacientes.

A artrite idiopática juvenil do tipo sistêmico é insidiosa, e caracteriza-se pela presença de artrite associada à febre alta com picos diários, erupções na pele, gânglios, aumento de baço e fígado.

Como o canaquinumabe é utilizado?

O canaquinumabe é um medicamento utilizado por via subcutânea. Ou seja, é aplicado em uma injeção por sob a pele, em dose única. Após o treinamento adequado para a aplicação desse medicamento, caso seja apropriado, o médico pode determinar que o próprio paciente aplique em si mesmo o canaquinumabe. No entanto, o tratamento deve sempre ser acompanhado e supervisionado por um especialista.

Instruções de uso do canaquinumabe

O canaquinumabe é apresentado em solução injetável em pó, contendo 150 mg, em um frasco-ampola de uso único. Para sua aplicação, o medicamento deve ser reconstituído. Ou seja, é preciso injetar lentamente 1,0 mL de água para injeção com uma seringa de 1 mL e uma agulha de 18 G × 2”. 

Em seguida, é indicado girar o frasco-ampola devagar, em um ângulo de aproximadamente 45°, por cerca de 1 minuto. Além disso, é preciso deixar o medicamento descansar por 5 minutos. 

Após esse procedimento, a pessoa responsável pela aplicação deve virar o frasco-ampola e cabeça para baixo e voltar à posição inicial por 10 vezes. É indicado então deixar o medicamento descansando mais uma vez, agora por 15 minutos em temperatura ambiente. 

A solução deve ser livre de partículas visíveis e límpidas. Além disso, deve ser incolor ou pode ter uma ligeira coloração amarelo-acastanhada. Não utilize se houver partículas na solução.

Por razões microbiológicas, a solução do medicamento preparada deve ser usada imediatamente após a reconstituição. Caso não seja possível, a duração e as condições de armazenamento são de responsabilidade do usuário e normalmente não deve ultrapassar 24 horas a 2-8 °C.

Com cuidado, retire o volume de aplicação necessário, de acordo com a dose a ser administrada, e aplique por via subcutânea com a ajuda de uma agulha de 27 G × 0,5”. A injeção deve ser evitada sobre qualquer cicatriz.

Infusão medicamentosa para doenças autoinflamatórias

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O canaquinumabe é um exemplo de medicamento utilizado para o tratamento de doenças autoinflamatórias por meio de infusão de medicamentos. Também chamada de TRE – terapia de reposição enzimática – é a aplicação de um infuso ou de uma injeção diretamente na veia do paciente, inserindo nele uma enzima parecida com a que lhe falta completa ou parcialmente. Tal enzima é desenvolvida por meio de engenharia genética e tecnologia de DNA recombinante, derivada de anticorpos humanos ou de origem animal, alterados em laboratório.

Para o tratamento de doenças autoinflamatórias, a infusão de medicamentos se mostrou uma revolução mais do que pertinente. Isso porque há casos nos quais o tratamento convencional não pode ser administrado, gera efeitos adversos muito severos ou não surte o resultado esperado. Naqueles moderados a graves, a infusão medicamentosa também tem sido a solução para se lidar com o problema de modo mais humanizado e para manter a qualidade de vida do paciente.

Por questões como essa, a aplicação enzimática intravenosa já é vista como uma maneira mais eficiente de administração de medicamentos no paciente. Esse recurso permite que a medicação seja fornecida em taxas, volumes e intervalos precisamente programados, de acordo com a necessidade do paciente.

Portanto, esse tratamento por meio de medicamentos biológicos é seguro, reconhecido e pode ajudar o paciente a apresentar menos reações adversas e ter mais qualidade de vida, visto como revolucionário e uma das grandes tendências da medicina.

No caso da febre familiar do Mediterrâneo, por exemplo, há também o caso de pacientes que são intolerantes à terapia com colchicina. Nesse contexto, a infusão mostra-se como uma importante alternativa para garantir o tratamento a essas pessoas e o alívio rápido e sustentável de seus sintomas que podem ser bastante incômodos.

Infusão medicamentosa na Clínica Croce

A Clínica Croce, fundada em 1973, conta com um corpo médico formado por especialistas da USP e UNIFESP. Nossa equipe está preparada para prover o tratamento da Febre Familiar do Mediterrâneo via infusão de medicamentos, tendo ainda o diferencial do atendimento com uma abordagem multidisciplinar, visto que o paciente com esse tipo de patologia costumeiramente enfrenta problemas associados a outras especialidades, tais como a reumatologia.

Na clínica, contamos com a expertise do Dr. Leonardo Oliveira Mendonça, alergista e imunologista especialista em doenças raras, como a FFM, o que torna todo o processo de diagnóstico e tratamento mais ágil e preciso para esses casos.

Localizado na zona oeste de São Paulo, o ambiente da clínica é especialmente desenvolvido para prover um atendimento confortável, qualificado, seguro e acolhedor ao paciente. O tratamento via infusão medicamentosa é feito com o acompanhamento de nossos especialistas, seguindo todos os protocolos demandados para esse tipo de atendimento.

O canaquinumabe é uma medicação utilizada para tratar doenças autoinflamatórias, controlando sintomas e melhorando a qualidade de vida e bem-estar do paciente. Para que o tratamento seja adequado e sem maiores traumas, é realizado por meio de infusões medicamentosas.

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